- DestaquesNOTÍCIASVARIEDADES

Uma senhora diretora!

Na semana em que a Escola Bernardino Tatu comemorou 53 anos, a ex-diretora da instituição, Laire Freire Xavier, recordou a fase em que esteve à frente do educandário em uma entrevista concedida à Qwerty

A sala de grandes janelas é bem iluminada e aconchegante. Depositados nas paredes claras e móveis no estilo rústico, inúmeros quadros e porta-retratos com fotografias de família compõem a decoração do ambiente. As lembranças estão espalhadas por toda a parte, e são justamente elas, as lembranças, o fio condutor de minha conversa com a professora aposentada, Laire Freire Xavier. Nosso encontro, ocorrido na última terça-feira (15), teve como objetivo recordar a fase em que ela esteve à frente da direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Bernardino Tatú – que comemorou 53 anos no último sábado (19).

A relação da educadora com a instituição é profunda. Além de ser filha da primeira diretora do educandário, Zany Espinosa Freire, foi no Bernardino Tatu que Laire iniciou sua carreira como professora, em 1981, retornando para o pequeno colégio do bairro Sagrada Face mais de 20 anos depois. “Em quase toda a minha vida de professora municipal eu tive muito pouca docência. Eu trabalhei vários anos na secretaria, passando por diversas administrações, de diversos prefeitos, mas saí de lá em 2005 e pedi pra ir pro Tatu, que era minha escola de origem. Só que eu cheguei lá e fui colocada na sala de informática, o que achei um tédio. Ficar parada dentro daquela sala não combinava comigo”, recorda.

O desejo de colocar em prática os conhecimentos adquiridos naqueles anos todos foram decisivos para que ela tomasse a iniciativa de concorrer à direção da escola no pleito que se aproximava. “Quando eu comecei a fazer minha campanha ninguém me queria. Eu era do turno da manhã, que me apoiava, enquanto o pessoal da tarde não”, conta aos risos. Os olhares tortos de pais e responsáveis, professores e funcionários que até então a desconheciam, em pouco tempo deram espaço à uma profunda admiração frente ao trabalho que passou a ser desenvolvido pela nova equipe diretiva que tinha como base os “pilares da educação da Unesco, que é: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. E no Tatu eu consegui colocar isso em prática com o apoio de toda a equipe”, salienta a ex-diretora.

Dos quatro anos em que ocupou o cargo, Laire orgulha-se, dentre tantos feitos, de ter modificado a filosofia da escola para ‘solidariedade’. Segundo ela, “a ideia era colocar uma palavra de impacto, uma palavra que a gente conseguisse, no dia a dia, transformar em realidade. E todo o nosso trabalho era permeado nisso, com diversas atividades, projetos e ações”, comenta a educadora.

Projetos desenvolvidos

E muita coisa foi feita neste período, como festas, solenidades, ações sociais, a reorganização da banda da escola, a criação da ‘Semana Literária e Cultural’, que estuda a vida e a obra personalidades locais ou não; o projeto ‘Eu amo a minha vida’, que tinha como objetivo conscientizar crianças e adultos sobre a dependência química; o ‘Escola de Pais’, que buscava a inclusão dos responsáveis no ambiente escolar, orientando-os sobre suas responsabilidades e importância na formação de crianças e adolescentes; e a fundação do Departamento Tradicionalista Estudantil (DTE) Querência Amada, grupo de danças gaúchas que representou o educandário em inúmeros concursos pelo Rio Grande do Sul entre os anos de 2007 e 2014, foram algumas das atividades externas de maior destaque.

A despedida

Compreender que pra tudo há um tempo, que ciclos se encerram, para muitos pode ser um desafio constante, mas não foi para Laire que, após duas gestões, decidiu não disputar novamente à direção da escola, surpreendendo pais, alunos e professores. O comunicado feito naquele ano de 2010 ocasionou reações emotivas, abaixo-assinado e protestos em programas de rádio. Mas apesar da insistência para que ela ficasse, o martelo já havia sido batido: “Faltavam dois anos pra eu me aposentar, então eu decidi sair de cena, porque eu acredito que a gente tem que sair de um posto, de um lugar, no auge, enquanto todos querem que tu fiques”, pondera.

E todos queriam que ela ficasse. As reações emotivas e de negação eram fruto da excelência de um trabalho desenvolvido em conjunto ao longo desses quatro anos, e que levou a Escola Bernardino Tatú a ultrapassar as metas de qualidade do ensino estipuladas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que estava cinco anos à frente da meta exigida pelo Ministério da Educação.

“Eu acredito que a educação não transforma o mundo, mas transforma as pessoas. Essa foi uma época linda e gratificante. E eu digo sempre, e sempre carrego isso comigo e sei que vento algum irá apagar: os meus anos de direção na escola Bernardino Tatu foram o que marcaram a minha vida profissional no município”, finalizou a educadora que encantou gerações com seu carisma, entusiasmo, espírito livre e palavras de incentivo de quem fez do verbo educar sua vocação e paixão de vida.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
×

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios