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Série Profissões em Extinção – Ourives

Na primeira entrevista, conversamos com Juan Nieves Pereira Gomes, ourives há mais de 60 anos

A mesa de trabalho

Existem atividades que por muito tempo foram valorizadas e mais necessárias, não que hoje elas não sejam, mas as mudanças sociais fizeram com que algumas delas fossem deixando de serem usuais, seja por falta de interesse de novos aprendizes, seja pela baixa procura por determinados profissionais. O fato é que para certos serviços que ainda são necessários, raramente se encontra quem ainda os desempenhe. Nesse balaio de coisas entram sapateiros, barbeiros tradicionais, alfaiates, engraxates, alambradores, cuteleiros e ourives, como no caso de nosso primeiro entrevistado, entre outros.

Juan mostrando o modelo de uma pulseira em que vem trabalhando

Optamos por conversar com ele de início, por dois motivos: o primeiro é porque Juan é vizinho da Qwerty Portal de notícias; o segundo, porque ele é um dos poucos, senão o único ourives da cidade.

Natural do departamento de Rivera, Uruguai, este castelhano de 75 anos encontrou em Dom Pedrito uma segunda pátria, na qual trabalha há pouco mais de quatro anos nessa atividade, mas a história de dar forma ao ouro e a prata começa há muito tempo, lá pela década de 1950, quando aos nove anos de idade deu os primeiros passos naquela que viria ser a sua profissão.  De família bastante humilde, precisou trabalhar desde cedo e foi como ajudante em um “boliche” que iniciou sua trajetória, mas como ele não gostava do que fazia, buscou outra área, e foi quando a arte de trabalhar esses nobres metais apareceu em sua vida.

Laminador manual

Ironicamente, seu professor foi um brasileiro, um joalheiro carioca que apareceu no Uruguai naquela época. Aos 16 anos de idade, já dominava o ofício e foi quando o seu mestre resolveu voltar para o Brasil querendo levá-lo junto, o que seus pais não autorizaram.

Depois disso, conseguiu se estabelecer em Montevidéu, onde trabalhou em algumas joalherias. Passado algum tempo, década de 1970, rumou para a Argentina, onde trabalhou em Buenos Aires e também na região Sul, agora na área da construção civil, setor que se beneficiou desta fase do governo de Juan Peron, quando este incentivou setor têxtil em uma região da Patagônia. Nosso entrevistado chegou a possuir uma fábrica de pré-moldados de concreto por três anos. Cessado este período de aproximadamente cinco anos fora da profissão original, voltou para o Norte da Argentina quando a retomou. Neste país conheceu a esposa, com quem tem três filhos, mas quis o destino que ele retornasse ao país de origem, onde reside até hoje. Explicamo-nos: Juan mora em Rivera com a esposa, e vem a Dom Pedrito onde permanece de segunda a sexta-feira trabalhando.

Máquina americana para fazer gravações

 

 

 

O ourives já se aposentou há cerca de 10 anos no Uruguai. Como naquele tempo o governo do país vizinho não permitia que aposentados continuassem com qualquer atividade remunerada, ele encontrou na Capital da Paz, um nicho de mercado, e assim ele o faz desde então.

Juan fabrica, conserta, modifica, faz gravações em qualquer peça em ouro e prata. Bombas de chimarrão, anéis, alianças, pulseiras, fivelas ou qualquer utensilio feito desses materiais, Juan trabalha.

Ele, que já ensinou o ofício a algumas pessoas, avalia que a profissão perdeu muito mercado para as grandes fábricas e que a sua atividade, realmente, está cada vez mais escassa. Mencionou que até poderia ter vindo morar definitivamente no Brasil, onde ele considera o mercado de trabalho muito melhor, no entanto, para pessoas na idade da dele, aposentadas, o Uruguai continua sendo bem melhor, principalmente na atenção à saúde.

Quase no final de nossa conversa, Juan disse que não poderia trabalhar em outra coisa, apesar de possuir outras profissões, como treinador rede futebol, na qual ele tem curso em nível universitário no Uruguai; também na área da construção civil e apicultura.

Gostou do que leu? Então siga acompanhando a nossa série de reportagens “Profissões em Extinção”

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