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Respeite o meu Axé: dia 21 de janeiro assinala a luta contra a intolerância religiosa no Brasil

Religiões de matriz africana são os principais alvos de preconceito e discriminação no país

A fé, que por extensão tem como significado ‘crença intensa na existência de algo’ ou ‘confiança e esperança’ é algo particular de cada ser humano e não está necessariamente ligada a algum tipo de religião – apesar de, na maioria das vezes, estarem associadas. Abordar temas voltados à religiosidade no Brasil é constatar a pluralidade da qual somos formados e perceber as inúmeras influências herdadas de nossos antepassados.

Segundo dados de uma pesquisa desenvolvida pelo Datafolha, do Jornal Folha de São Paulo, em 2019, 50% da população brasileira se declarava católica, 31% se dizia evangélica e 10% afirmava não possuir nenhuma religião. Ainda conforme as respostas dos entrevistados, 3% das pessoas ouvidas eram espíritas, 1% se auto declarava ateu, e 0,3% pertenciam ao judaísmo; os adeptos de outras religiões somavam 2%, bem como os fiéis praticantes das religiões afro-brasileiras. 

Apesar do direito à liberdade religiosa estar assegurado por lei e o Brasil ser um Estado laico, práticas de intolerância são recorrentes em todo o país, tendo como alvo principal as religiões de matriz africana. Em busca de inibir tais práticas e conscientizar sobre o livre exercício da fé, há 15 anos, em dezembro de 2007, foi sancionada a lei que institui o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, memorado a cada 21 de janeiro. 

A data escolhida faz alusão ao Dia Mundial da Religião e a morte da Iyalorixá Mãe Gilda, dirigente do Terreiro Abassá de Ogum, na Bahia. A religiosa foi vítima de ataques em duas ocasiões, tendo, em uma delas, sua foto estampada em um periódico evangélico acompanhada pela frase ‘macumbeira charlatã’, fato que, segundo os familiares, debilitou sua saúde, resultando em um infarto fulminante.

A importância da data

Para a doutora em História, Clarisse Ismério, ter uma data destinada à conscientização do combate à intolerância religiosa é extremamente oportuno e traz, de certa forma, uma reparação histórica, visto que durante muitos anos a prática dos cultos afro-brasileiros sofreram algum tipo de tentativa de invisibilização pela sociedade. “O preconceito contra as religiões de matriz africana está dentro da questão do racismo estrutural arraigado na sociedade, indo além da questão da cultura e da religião. Ele está ligado ao racismo em si”, avalia a historiadora.

Segundo a ministra quimbandeira Mãe Pâmela d’Oyá a discriminação contra umbandistas, quimbandeiros ou candomblecistas pode ser percebida no dia a dia dos fiéis, seja em seu ambiente profissional ou até mesmo de estudos. A religiosa, que vem de uma família de umbandistas, tem compromissos firmados com a religião há 22 anos e ressalta que “O preconceito ainda existe, por isso lutamos por igualdade”. 

Um dos pré-julgamentos mais comuns e forma mais recorrente de discriminação é a associação dessas religiões com algo negativo e até mesmo ‘demoníaco’. Questionada sobre esse tipo de pensamento, Mãe Pâmela d’Oyá define sua religião como sendo “um abraço” que auxilia em diversas questões da vida humana, sejam elas amorosas ou espirituais. “A quimbanda é a linha de Exus e Pomba Giras. Eles são as energias mais próximas que temos, antigamente chamada linha de esquerda, mas que hoje chamamos de quimbanda”, finalizou.

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