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Qwerty Editorial – O agronegócio em Dom Pedrito chegou ao ápice?

Análise do cenário do setor primário frente às mudanças enfrentadas pela agricultura tradicional

É notório que a agricultura e a pecuária em Dom Pedrito, sofreram grandes transformações ao longo das últimas décadas. Herança dos colonizadores, com destaque para as Sesmarias, extensões de terra que foram distribuídas pela coroa portuguesa aos colonos, com o fim de assegurar a integridade do território, que estava em constantes conflitos. O gado que foi inicialmente introduzido pelos jesuítas, em suas missões religiosas e que após os ataques de bandeirantes, ficou solto pelos pampas, começou a ser capturado e criado comercialmente. Dessa medida, surgiram as estâncias, que manteram ao longo dos séculos, um modelo de negócio que se perpetuou até os dias atuais. Assim foi com Dom Pedrito.

Por muito tempo, essas estâncias foram os maiores empregadores, tanto é que até há algumas décadas, o número de pessoas vivendo na zona rural era maior do que o da cidade. Que ironia. E isso é coisa de pouco mais de 60 anos. Com a chegada dos colonizadores alemães em 1824 e italianos anos depois, em 1875, a lavoura começou a ser introduzida no Rio Grande do Sul, inicialmente com as culturas de centeio, cevada, fumo, batata inglesa e trigo, passando a desenvolver também, em um período posterior a cultura do arroz.

Os italianos também influenciaram a cultura gaúcha com a introdução de culturas diferentes daquela com a qual o povo local estava acostumado, com destaque para a uva.

Em Dom Pedrito, a chegada dos alemães e italianos se deu mais ou menos na mesma época, principalmente a partir da década de 1940, notadamente depois da segunda grande guerra. O cenário começava a mudar. Os campos, antes acostumados a receber as criações de gado, passaram a ter suas vastidões divididas com as plantações. Entre elas aparecem o trigo, o milho, sorgo, a soja e a principal delas, o arroz. As terras férteis, a oferta de água, logo fizeram com que a cultura se destacasse e com o passar das décadas fez de Dom Pedrito um dos maiores celeiros da cultura no país.

A modernização da lavoura colocou o município em um patamar nunca antes visto. Indústrias foram criadas, cooperativas fundadas, fortunas construídas, desenvolvimento gerado. Mas as dificuldades financeiras, fruto de políticas que não incentivam e não valorizam o produtor, fizeram com que ele se descapitalizasse nos últimos anos, obrigando a que muitos deles abandonassem a atividade. Nesse cenário, é possível que a agricultura em Dom Pedrito tenha alcançado o seu máximo? É possível que a lavoura do arroz tenha chegado ao seu limite?

A resposta não é única. Foi o que disseram recentemente dois especialistas na área, ambos entrevistados no Programa Opinião, transmitido pela Qwerty Portal de Notícias todas as quartas-feiras, a partir das 17h – o produtor rural Valter Pötter e o professor Divaldo Silva. O primeiro falou do avanço que o agronegócio teve nas últimas décadas. Pecuarista renomado e agricultor destacado, hoje ele investe na diversificação de cultura. Instigado pela geração mais nova, onde as filhas sugeriram ideias inovadoras, ele deu início a plantação de uvas viníferas e hoje possui uma vinícola que é modelo para todo o país, por ser, entre outras coisas, pioneira ao utilizar a energia solar para abastecer todo o empreendimento. Embora veja o modelo atual como muito rentável, percebe que a diversificação de culturas seja um caminho sem volta.

Divaldo Silva, homem com vasta experiência no setor primário, com destaque para a lavoura de arroz, avalia que a cultura orizicola, embora venha sofrendo com a desvalorização e falta de políticas governamentais claras para trabalhar, ainda tem muito por ser explorada, faltando para tanto, medidas que garantam, no mínimo, o preço justo pelo produto. Outro empecilho que chegou a um gargalo é a questão da água. Os mananciais e reservatórios existentes já não são suficientes para irrigar uma área maior do que a atual, restando a esperança de que barragens como a do Taquarembó venham a ser concluídas e possibilitem que esta, como outras culturas possam ser expandidas. A diversificação de culturas, a seu ver, precisa de maior planejamento por parte de agricultores e lideranças, uma vez que, se plantando, tudo dá, o mesmo já não acontece se não houver estrutura de armazenamento e mercado consumidor.

Dom Pedrito tem a vocação para as coisas do campo e pode crescer muito, ainda, mas é preciso que haja planejamento, organização, incentivos e políticas que amparem o homem do campo, para que ele permaneça no campo.

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