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Qwerty Editorial – Intolerância, um mal que atinge a todos

Religião, política, gosto musical, time de futebol - são inúmeros os motivos pelos quais exteriorizamos nosso modo de pensar e agir

Já disse um sábio que a convivência é a arte de nos tolerarmos uns aos outros. É um exercício que deveria ser praticado por todos, afinal, gostando ou não, vivemos numa sociedade e o contato com outras pessoas é inevitável.

Não é outro o motivo de haverem tantos conflitos, desde os grandes, como as guerras, até os que atingem a massa comum, e aí os motivos são os mais variados: a política, a religião, gosto musical, e é claro, o time de futebol.

Recentemente veio à tona um caso típico, e que chamou a atenção por ter sido protagonizado em circunstâncias que geraram muitos posicionamentos. Durante a partida de futebol entre Grêmio e Internacional, realizada no dia 20 de julho, no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, uma mulher, que estava com filho foi agredida com empurrões por uma torcedora do Inter, após tirar uma camiseta do tricolor da bolsa e mostrar aos torcedores do Grêmio, que ainda estavam na parte superior do estádio.

A intenção aqui não é entrar no mérito da questão, em quem estava certo ou errado, mas sim, exemplificar com esse fato, um triste fato, aliás, o quão intolerantes nós somos. É sabido que o futebol é uma paixão nacional, e que as pessoas fazem verdadeiras loucuras pelos seus times do coração, mas pensemos, até que ponto manifestações desse tipo contribuem para a vida de todos? A violência gerada nesse caso específico tem algum sentido, alguma finalidade, mudou a vida da torcedora que se agastou em tirar satisfação daquela a quem parecia julgar uma inimiga?

Mais uma vez, não estamos emitindo juízo sobre o fato em si, mas tentando mostrar o quanto gastamos de tempo e energia em coisas inúteis, e que podem , como no caso das torcedoras, gerar consequências judiciais, prejuízos morais e financeiros aos clubes e ao esporte como um todo.

A intolerância tem sido ao longo dos tempos, a causadora de praticamente todos os conflitos, e isso desde que o homem se reconhece como gente. As guerras que marcaram a trajetória da humanidade são o exemplo mais clássico disso, tanto que os motivos são os mais variados, como ação dos conquistadores romanos, onde os representantes do Cesar espoliavam, matavam, destruíam, tudo pela expansão do império.

A religião, por incrível que pareça, também gerou, é gera ainda, incontáveis guerras. As cruzadas, expedições que aconteceram na idade média em diversos períodos, se tinham um objetivo justo em seu início, acabaram causando, também, muito mal, e foram o principal motivo de a igreja romana estar hoje coberta de ouro e joias.

Não podemos esquecer-nos da intolerância que se observa quanto à sexualidade das pessoas. Reprimida por muito tempo, a opção sexual diferente dos padrões considerados normais, foi causa para que milhares de pessoas fossem condenadas às mais duras penas, indo da tortura, morte em fogueiras e forcas, até castrações químicas e tratamentos medicamentosos mais recentemente. Embora as leis estejam avançando e aos poucos reconhecendo e garantindo direitos aos que diante da sociedade preconceituosa, tem coragem de assumir o seu jeito de ser, é possível notar, principalmente em nosso Estado, muita intolerância para com esse grupo.

O racismo, terreno delicado de pisar, merece aparecer em nossas considerações. O que é, como ele surgiu, quem é o foco dessa forma de pensar e agir, gera, até hoje, inúmeras discussões. Trata-se de um comportamento que, em síntese, julga que por conta de uma pessoa apresentar características físicas diferentes, como as feições, cor da pele, tipo de cabelo, uns seriam superiores aos outros. A eugenia nazista, por exemplo, que foi parte fundamental na ideologia da pureza racial, foi um os grandes desastres da humanidade ao culminar no holocausto. O termo eugenia vem sendo, inclusive nos dias atuais, tema de discussão entre os cientistas que, junto de outras áreas do conhecimento humano, referem problemas éticos na questão, que pode levar a divisão das pessoas, além de gerar o risco de rotular grupos distintos.

Uma pessoa é intolerante quando o jeito de ser, de pensar, de agir do outro, mesmo sem afetar o indivíduo diretamente, gera nele um desconforto, uma indignação a ponto de precisar emitir um juízo, uma opinião, ou mesmo agir em função disso. Muitos fatores podem estar envolvidos para que alguém seja ou desenvolva esse sentimento. As influências do meio onde vive, a educação recebida dos pais ou mesmo a falta dela, podem contribuir para esse estado íntimo.

Como eliminar ou mesmo diminuir os efeitos da intolerância, parece ser um objetivo ainda distante de alcançar. Trabalhar a consciência de coletividade, a noção de que vivemos em uma sociedade e que as diferenças são justamente uma das nossas características, pode representar o primeiro passo nessa direção. Se o mundo é heterogêneo, porque nós deveríamos ser todos iguais?

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