O descendente de imigrantes italianos que virou comerciante na Capital da Paz
Vitório Cechin chegou a Dom Pedrito no ano de 1974, vindo de uma colônia no centro do Estado

Vencer na vida é uma daquelas expressões usadas comumente por quem acredita que a felicidade está unicamente na aquisição das coisas materiais. Criar um patrimônio sólido, se destacar na sociedade, ter uma carreira de sucesso. Certamente essas podem ser assim consideradas, porém o significado de vencer na vida é bem mais amplo do que esse mero conceito. Adquirir a estabilidade financeira, construir uma família unida, ser um homem de bem, creio que sejam aspirações tão ou mais nobres que juntar o máximo de dinheiro possível.
E essa parece ser, em reduzidas palavras a história de Vitório Cechin, o descendente de imigrantes italianos que nasceu e cresceu em uma colônia no coração do Estado, mais precisamente na Quarta Colônia, localizada em Silveira Martins, criada em 1877 para receber os colonos italianos, dois anos depois de seus familiares chegarem no Brasil. Mas voltemos ao nosso personagem principal.
Vitório é o 5º de cinco filhos que seus pais tiveram. Hoje com 80 anos, ao olhar para trás, vê um filme projetado na memória. E foram essas memórias que fui resgatando. Sentado ao seu lado, fui garimpando lembranças e montando aquilo que poderia ser, quem sabe, o roteiro de um filme de época.
Cechin conta que na colônia, o trabalho começava antes de raiar o dia. A lida era dura – cuidar dos animais, da plantação, numa rotina que se repetia dia a dia, ano a ano. “Eu tinha um irmão (já falecido) que o serviço dele era tratar das galinhas e dos porcos. Quando eu comecei, tinha 10/11 anos, e o meu serviço era tirar leite das vacas e depois todo mundo ia para a roça”, conta Vitório. Essa sina, interrompida somente aos 18 anos quando prestou serviço militar obrigatório no 2º RC de São Borja, continuou até os seus 32 anos, quando resolveu sair de casa, momento em que vai para Dom Pedrito, acompanhado de um primo para plantar arroz, na região da Estrada do Meio.
Passados mais quatro anos, Vitório ainda não estava satisfeito com o rumo da vida, as coisas não estavam evoluindo como desejava, então, mais uma mudança, veio para a cidade. Com a memória bastante viva daquele tempo, ele lembra que chegando a um comércio no Bairro São Gregório para fazer um lanche (um refrigerante pequeno e três ou quatro bananas), e conversando com o dono do estabelecimento, foi se informando e tendo despertada a vontade de criar o seu armazém.
O armazém

Alugou um ponto na área central da cidade e depois de um ano descobriu por acaso, um senhor que iria se aposentar, ao lado de onde está nos dias de hoje, na Rua Sete de Setembro. Pronto, alugou o armazém e começou seu próprio negócio. O ano era 1980, época em que nasceu sua primeira filha. O antigo dono ainda foi seu fiador na extinta Caixa Econômica Estadual em um empréstimo contratado para fazer seu estoque e pagar as primeiras despesas. Foram quase cinco anos neste local. Abria cedinho e fechava quase meia noite. Foi assim, economizando, fazendo um negócio aqui, outro ali que, aos poucos, comprou um imóvel e construiu o local que abriga a casa e o armazém como o conhecemos hoje.
Família
Ao falar da família, ele não deixou dúvidas de que esta é sua maior riqueza. Com a esposa Dalva teve duas filhas – Maria e Eliane, que lhe deram duas netas e um neto. Com lágrimas rolando pelo rosto, Vitório exclama: “Estou mais do que feliz. Melhor que isso, é impossível”. Com o olhar vívido e repleto de lucidez, Vitório não pensa em parar. Hoje ele segue com as atividades que marcaram a sua vida e a de tantos que passaram pela sua venda. Aqueles mesmos que rodando o antigo baleiro cresceram e conservam até hoje suas memórias na mente e no coração.
