No dia da enfermagem, o aplauso é para esses soldados da saúde
Em tempos de pandemia, esses profissionais, ao lado dos médicos demais trabalhadores da área da saúde, são a linha de frente no combate ao Covid-19

Dia 12 de maio comemora-se mundialmente o Dia da Enfermagem e o Dia do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, marco da enfermagem moderna no mundo e que nasceu em 12 de maio de 1820. No Brasil, além do Dia do Enfermeiro, entre os dias 12 e 20 de maio, comemora-se a Semana da Enfermagem, data instituída em meados dos anos 40, em homenagem a dois grandes personagens da Enfermagem no mundo: Florence Nigthingale e Ana Néri, enfermeira brasileira e a primeira a se alistar voluntariamente em combates militares.
A profissão tem origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas convalescentes, idosos e deficientes. Durante séculos, a enfermagem vem formando profissionais em todo o mundo, comprometidos com a saúde e o bem-estar do ser humano.
Ana Neri e a enfermagem

Ana Justina Ferreira Neri nasceu na Vila Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira do Paraguaçu (Cachoeira), em 13 de dezembro de 1814. Viúva do capitão-de-fragata Isidoro Antônio Néri viu seus familiares mais próximos serem convocados para a Guerra do Paraguai e solicitou ao presidente da Província da Bahia poder acompanhar os filhos e o irmão, ou pelo menos prestar serviços voluntários nos hospitais do rio Grande do Sul, no que foi atendida. Embarcou, em Salvador, com a tropa do 10o Batalhão de Voluntários da Pátria em agosto de 1865, na qualidade de enfermeira.
Serviu, portanto, como voluntária na Guerra do Paraguai (1864-1870), como auxiliar do corpo de saúde do Exército brasileiro. A partir deste contexto ofereceu seus serviços como enfermeira ao presidente da província enquanto durasse o conflito. Durante toda a Guerra do Paraguai, prestou serviços nos hospitais militares de Salto, Corrientes (Argentina), Humaitá e Assunção (Paraguai), bem como nos hospitais da frente de operações. Viu morrer na luta um de seus filhos e um sobrinho. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1980, aos 66 anos de idade. Ana Neri foi contemporânea de Florence Nightingale (foi quem criou a primeira escola de enfermagem no mundo, em Londres, 1860), mas não existem indicações de que elas sabiam da existência uma da outra. No entanto, foram semelhantes na maneira de agir: ambas ricas, estudadas, cultas e poliglotas, severas e disciplinadoras e dedicadas às tarefas de cuidar dos sofredores nas guerras em que participaram ativamente (Ana, na Guerra do Paraguai e Florence, na Guerra da Criméia – atual Ucrânia).
O que fez?
Durante a guerra Ana Neri enfrentou o caos da saúde no país quando as doenças proeminentes da época eram a Cólera, febre tifoide, disenteria, malária e varíola. Durante toda a Guerra do Paraguai prestou serviços nos hospitais militares de Salto, Corrientes (Argentina), Humaitá e Assunção (Paraguai), bem como nos hospitais de campo, na frente de operações militares. Em sua convivência diária com os médicos, no trato conjunto das obrigações, adquiriu conhecimentos terapêuticos, mas o bom senso aliado ao seu olhar de mãe que cuida de filhos doentes muitas vezes fez prevalecer sua opinião aos médicos.
A enfermeira conseguiu transformar a realidade sanitária local, impondo condições mínimas de higiene para que doenças não se alastrassem e feridas fossem tratadas. Na luta pela recuperação dos pacientes eram usados recursos da época como iodo, cloreto de potássio, água fanicada e cauterização, além de beberagens de plantas medicinais. É considerada a primeira pessoa não religiosa a dedicar-se aos cuidados com a saúde de uma comunidade ou população, considerada a primeira enfermeira do Brasil. O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.
Naquelas condições difíceis, organizou os hospitais de campanha e a primeira enfermaria foi montada em sua própria casa, em Assunção, e às suas expensas. Metodizou as tarefas em busca da eficácia, com olhos humanitários e a alma voltados tanto para os cuidados dos combatentes da Tríplice Aliança (Brasil, Uruguai e Argentina), quanto para os soldados do invasor Paraguai, indistintamente.
O legado
O seu maior legado pode ser considerado a abnegação e a perseverança na prática do cuidar do próximo, a organização sistemática e a humanização no cuidar dos doentes.
Precursora da Cruz Vermelha, é considerada a primeira enfermeira do Brasil. Em sua homenagem a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão no país foi denominada Ana Neri (1923). Em 10 de agosto de 1938, o presidente Getúlio Vargas, assinou o decreto nº 2.956 instituindo o dia do enfermeiro, que deve ser celebrado em 12 de maio. Nessa data devem ser prestadas homenagens especiais à memória de Ana Neri, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do país.
Brazil, T.K. (organizadora), Sales, S. M., Portella, S.D.C. – Ana Justina Ferreira Neri. Projeto Herois da Saúde na Bahia. Disponivel em http://www.bahiana.edu.br/herois/heroi.aspx?id=Mg==. Acesso em: 12/05/2020.