Marília Alencastro Maia: um baluarte dos saberes
Responsável por batizar a cidade com o cognome "Capital da Paz", a professora, escritora e poeta é uma das tantas personagens que ajudaram a construir a identidade cultural de Dom Pedrito
A história de Dom Pedrito é composta por inúmeros personagens: são homens e mulheres, figuras do povo que ajudam a construir a identidade cultural do lugar em que vivem, ou escolheram viver, como é o caso da professora, escritora e poeta Marília Alencastro Maia.
Gaúcha de São Luiz Gonzaga, Marília foi viver com a família em Porto Alegre após a morte prematura do pai, e foi na Capital do Estado, no Instituto de Educação Flores da Cunha, que a menina estudiosa concluiu com êxito o chamado 1º grau, conquistando uma bolsa – a primeira ofertada no Rio Grande do Sul – para terminar seus estudos como interna da Escola Nossa Senhora do Horto, aqui em Dom Pedrito, iniciando assim uma história de amor e devoção para com esta terra.
“Chegamos minha mãe e eu de madrugada. Cidade pequenininha, poucos pontos de luz… Mas as portas do Horto estavam abertas e, a essa escola querida, devo a minha formação”, recordou a professora em seu discurso como patrona da 14ª Feira do Livro, em 2018, uma das tantas homenagens recebidas ao longo de sua vida.
A educadora
Pouco depois de concluir seus estudos no curso normal, a jovem professora entra no ensino superior, uma raridade para as mulheres da época, formando-se em letras (português e literaturas brasileira e portuguesa) pelas Faculdades Unidas de Bagé (Funba). Nas mais de três décadas dedicadas a educação, 20 anos foram destinados exclusivamente à sala de aula; seu primeiro emprego foi na Escola Estadual Dr. Arthur Villamil de Castro, como alfabetizadora.
Motivada pela ânsia do saber, Marília especializou-se em duas áreas: supervisão escolar, pelo CPOE (Centro de Pesquisa e Orientação Educacional do Rio Grande do Sul), e em administração escolar, pela Fundação de Recursos Humanos. Profissional dedicada ao seu ofício, ocupou, entre os anos de 1970 e 1985 o cargo de representante da 13ª Delegacia de Educação, e em 1973, foi nomeada Diretora do Ensino Municipal pelo então prefeito interino Alcebíades Jardim de Quadros, retornando ao posto nas gestões de Crispim Chaves da Cruz e José Coelho Leal.
“Mesmo com tantas atribuições na profissão escolhida ela estava também presente na criação dos filhos e na construção do lar”, recorda a filha e também professora, Sandra Gonçalves, que esteve presente em muitos momentos da vida profissional de Marília. “Como única filha mulher e a mais moça, acompanhei a trajetória da minha mãe, sobretudo, no período de 15 anos à frente da Secretaria de Educação. Ao seu lado, percorri o interior do município, visitando as escolas rurais, as quais ela sempre amou e se orgulhava. Acompanhei minha mãe, nos Natais, a distribuir brinquedos, escola por escola. Ela construía o lúdico antes disso ser um conceito na educação”, pontua Sandra.
Dentre os feitos de Marília à frente do cargo destacam-se a construção de 150 salas de aula, a criação de duas escolas infantis de arte, a implantação do Plano de Carreira e Estatuto do Magistério e a fundação do Conselho Municipal de Educação e Cultura.
“Sem dúvidas ela é uma das protagonistas no desenvolvimento educacional de Dom Pedrito, com a criação de muitas escolas, com o desenvolvimento do magistério, e mais do que isso, trazendo a educação e a cultura de uma forma mais acessível às pessoas da cidade”, avalia o prefeito Mário Augusto de Freire Gonçalves.
O termo Capital da Paz
É graças a sensibilidade de Marília Maia que Dom Pedrito carrega hoje a alcunha de Capital da Paz, título reconhecido oficialmente através do decreto nº 116 de 27 de outubro de 1988, assinado pelo então prefeito Quintiliano Machado Vieira.
O cognome popularizou-se de diferentes maneiras: junto de seus alunos da terceira série, em 1966, e no início da década de 1970, através da publicação de um de seus poemas, Ode à Capital da Paz, na coluna que assinou durante anos em um jornal da cidade.
Outras faces
Leitora voraz, Marília é também uma escritora de mão cheia, com diversos livros lançados (entre eles biografias de figuras históricas de Dom Pedrito e a organização de duas coletâneas de poemas) e mais de 500 crônicas publicadas.
O dom da palavra, seu principal instrumento de trabalho, difundiu-se também pelas ondas do rádio, através de um programa intitulado Espaço Cultural, em que ela comentava textos e abordava algumas das dificuldades da língua portuguesa.
“Ela é uma pessoa com muito talento, muito conhecimento e que nunca se apropriou disso somente pra si, mas compartilhou com a nossa cidade”, pontuou o chefe do Executivo, Mário Augusto de Freire Gonçalves.
Prêmios e homenagens
Os anos dedicados à educação e a cultura foram reconhecidos com diversos prêmios e homenagens, dentre eles a menção honrosa Juca Prado, da Academia Paulista de Letras, e o Brasão Simões Lopes Neto, oferecido pela Prefeitura de Pelotas. No entanto, a mais significativa das honrarias certamente lhe foi oferecida em 1998, ano em que recebeu o título de ‘Cidadã Pedritense’.
Na atualidade
Mãe de quatro filhos e avó de quatro netos, viúva de João Clóvis Gonçalves Maia, dedicou-se, após sua aposentadoria, aos 72 anos, com mais fervor ao trabalho voluntário e em prol da cultura no município.
Hoje, aos 86 anos, Marília Alencastro Maia vive cercada por livros, sua paixão de toda uma vida, e pela companhia dos familiares e amigos mais próximos, orgulhosos do legado deste baluarte dos saberes.




