Folgearini – de armazém à ferragem, 60 anos de história

Em mais de seis décadas morando na Capital da Paz, talvez só os mais moços não conheçam ou não tenham ouvido falar da Valdir José Folgearini, dono de um dos comércios mais antigos do município – a Ferragem Folgearini. Hoje com 92 anos, de olhar e pensamento lúcidos, ele pode ser visto de segunda a sábado, atrás de seu balcão fazendo palavras cruzadas.
Nascido em Caçapava do Sul, filho de agricultores, veio de Lavras do Sul para o município de Dom Pedrito com a família em 1958, para plantar arroz na região onde hoje existe a “chácara do Chachá”. A empreitada nos campos pedritenses não foi das melhores. Em 1959 ocorreu uma enchente muito grande “…que nos tapou até a casa…”, revelou Valdir. No ano seguinte uma geada na época da floração levou a perda quase que total da lavoura. Mudou-se, então para o outro lado do Rio Santa Maria, aqui mesmo nas proximidades da zona urbana, mas uma chuva de granizo que atingiu a plantação por mais dois anos consecutivos terminou com o sonho de produzir o cereal em Dom Pedrito.
Em 1961 casou-se com Ana Royes Folgearini (nome de casada – sobrinha do saudoso Bacará – Bernardino Royes). Foi então que incentivado pelo seu sogro resolveu montar um comércio, mesmo receoso, por conta de experiência malsucedida de seu pai, ainda em Lavras, por ter vendido fiado. O comércio ficava perto de onde está sua ferragem hoje, na esquina próximo à Escola Bernardino Ângelo. De começo vendia gêneros alimentícios, secos e molhados, bazar e mais adiante algumas ferramentas. “Era uma época de muita inflação (governo de João Goulart), a mercadoria começou a subir, tinha pouco dinheiro, não aparecia viajantes)”, conta Folgearini.
A loja foi inaugurada em 23 de novembro de 1963. Folgearini conta que dentre os primeiros produtos comprados estavam cinco sacos de feijão e que até às 22h daquela data já tinha vendido três sacos, consequência de uma escassez desse grão naquela época.
Uma aposta arriscada que parece ter sido sua receita para o sucesso vem de uma diretriz que Valdir seguiu durante todos esses anos “…vou quebrar por falta de clientes, mas não vou vender fiado”, revelou o comerciante a nossa reportagem. E isso ele levou tão a sério que, certa feita, nem mesmo um afamado agricultor local (não citaremos o nome), tido como de muitas posses, conseguiu levar uma panela daquelas grandes. Folgearini “trancou o pé” e o cliente saiu da loja bufando. Era uma época diferente da que estamos habituados – os produtos eram vendidos a granel, pesados e embalados na hora. Com o tempo o comerciante foi expandindo a parte de ferragem.
Mais adiante comprou uma casa antiga onde está o sobrado que abriga a ferragem nos dias de hoje, na Rua Coronel Urbano, entre as ruas Júlio de Castilhos e Sete de Setembro.
Fora um problema de coluna, Folgearini conta que tem uma boa saúde, e que não pretende parar com as atividades, pelo menos enquanto tiver forças físicas.
Em 2022 ele foi agraciado com a medalha Flávio Alves Bueno, referente ao Prêmio Ramón Torres, promovido pela prefeitura de Dom Pedrito, como reconhecimento ao empreendedorismo na Capital da Paz.