Em Livramento, mãe tira do lixo e das ruas o dinheiro para sustentar a família

A falta de oportunidades, a pobreza e o desemprego poderiam ser uma boa desculpa para a mãe Margarete Oliveira Deiques (42 anos de idade) buscar ajuda de várias formas, mas foram as dificuldades que a inspiraram a agir diferente. Desde muito jovem, Margarete aprendeu que poderia fazer do lixo o seu “ganha pão”.
Do lixo nasce o sustento da casa
Todos os dias ela calça os sapatos, põe as luvas e sai com o seu carrinho de mão adaptado pelas ruas da cidade em busca de garrafas plásticas e latas de alumínio. Margarete percorre desde a Vila Santa Isabel até o Centro e bairros periféricos em busca de material que possa ser reciclado. Em cada esquina, Margarete pára o seu carrinho de mão e busca nos lixos pelos objetos que se tornarão o dinheiro para pagar a sua conta de luz, água, gás de cozinha e fazer a feira do mês.
Margarete começa todos os dias às 16h e disse que só volta para casa por volta das 21h ou 22h, apenas quando o seu carrinho está bem cheio. Em casa ela separa as latas do plástico e prepara o material para ser levado à empresa responsável pela reciclagem. Margarete conta que a cada carrinho bem cheio e com bastante material é possível fazer R$ 15,00 por dia. Aos domingos ela não trabalha com reciclagem, mas como diarista e faz serviço de faxina em algumas casas, tudo isso para ajudar a manter a casa e cuidar da sua filha menor de apenas 10 anos de idade.
Recolhendo material suficiente por dia, Margarete pode fazer pouco mais do que R$ 350,00 reais por mês. Ela conta que trabalha com reciclagem porque não encontrou nenhum outro trabalho formal ou informal que lhe remunerasse. Diante da crise ela teve a coleta de lixo como salvação. A coleta ainda precisa ser feita antes da passagem do carro da Ansus.
A casa e as dificuldades
Em casa, Margarete mora numa casa muito simples com a filha Daiana. Erguida apenas com madeira e lona elas se abrigam do sol e da chuva, ainda com dificuldades. Um quarto simples é mobiliado apenas com uma cama e uma televisão, a única distração de Margarete para as noites longas e vazias. A cozinha abriga apenas um fogão e uma geladeira velha. Não existe piso, apenas terra vermelha como chão em toda a casa. O banheiro é um pequeno cômodo onde a patente não funciona e a água para o banho mal chega pelos canos.
Sonhos pequenos
A distração da filha é cuidar de gatos e cachorros que vivem no pátio e pela manhã frequentar a escola perto de casa. A filha Daiana classifica a mãe como uma batalhadora e se orgulha do trabalho que ela faz de recolher no lixo o sustento das duas: “ela também ajuda as pessoas, ela tira do lixo coisas que ainda estão boas como plástico e lata e a gente vive com isso. Ela trabalha todo dia”, disse.
Com a aproximação do inverno, Margarete espera poder arrumar o telhado da casa com algumas telhas e lonas que ganhou de uma igreja e quem sabe poder sonhar com um futuro melhor. Para a família (mãe e filha) o melhor seria uma casa mais digna para moradia, por exemplo.
Elis Regina / A Plateia