Dupla é condenada em Bagé por homicídio ocorrido em 2015

Diônatan da Silva Tavares, vulgo “Degolado”, foi condenado a 20 anos de prisão, e Bruno Teles Nunes, conhecido como “Sem Dente”, a 16 anos e oito meses. Ambos eram acusados pelo homicídio de Willian Santos Ferreira e pela tentativa de matar Leonardo Moraes, em fato registrado no dia 19 de agosto de 2015, na avenida Leonel Brizola, zona leste de Bagé. A sentença contra a dupla foi proferida na noite de terça-feira, após o caso ser pauta de júri popular no Fórum de Bagé. Os dois irão recorrer da decisão em regime fechado.
Denúncia
Conforme a denúncia, teria sido apurado nas investigações policiais que os denunciados, previamente conluiados e armados, tripulando uma motocicleta, aproximaram-se das vítimas – que também estariam em uma motocicleta – momento em que, de imediato, efetuaram diversos disparos de arma de fogo. Os acusados teriam uma rixa com Ferreira em razão do tráfico de drogas e suas consequências comerciais.
No fato, Ferreira foi atingido por um tiro e morreu logo após receber os primeiros atendimentos médicos. Ainda segundo a denúncia, o crime também foi cometido mediante recurso que dificultou a defesa do ofendido, tendo em vista que ele conduzia a motocicleta quando os denunciados, em preparada situação de armamento, aproximaram-se dele, desferindo-lhe disparos de arma de fogo.
Conforme apurado nas investigações, Moraes foi alvejado por oito disparos de arma de fogo efetuados pelos denunciados. O crime somente não se consumou por circunstâncias alheias à vontade dos denunciados, porquanto os disparos não atingiram a vítima em região de letalidade imediata, bem como em razão de intervenção cirúrgica, além do fato dele ter conseguido se refugiar em uma residência próxima ao local do crime.
Acusação
No júri de terça-feira, foram ouvidas cinco testemunhas arroladas pela acusação. Entre elas, um policial militar que atendeu a ocorrência no dia do crime, um morador da rua onde aconteceu o delito, o delegado de polícia que investigou o caso e Leandro Moraes, vítima de tentativa de homicídio.
Moraes relatou que, no dia do crime, teria ido ao supermercado com seu cunhado (Ferreira). “Saímos do mercado e estávamos indo pra casa, pela Leonel Brizola, sentido centro-bairro, quando eles apareceram atrás com a moto com farol desligado e seguiram efetuando os tiros. Eu estava pilotando e o William de carona, carregando as sacolas”, afirma. O jovem relatou que foi alvejado com oito tiros e Ferreira, que morreu, apenas com um. Informação que foi contestada pelo Ministério Público. Conforme o MP, mais de 11 disparos foram efetuados no dia do crime, pois, além dos que acertaram as vítimas, ainda teve mais um no capacete. Também foi exposto que há possibilidade de que alguns não tenham acertado alguém.
Moraes comenta que, com o susto, mesmo baleado, teria saído correndo e entrou em um pátio. “Fiquei no chão e fui socorrido. Os médicos disseram para minha família que eu não sobreviveria. Fiquei cinco horas e 16 minutos em cirurgia. Em 2012, o Bruno já me deu um tiro. O Willian foi morto só porque era meu cunhado e andava comigo”, salienta.
O morador da avenida Leonel Brizola ouvido na oportunidade, informou que, no dia do crime, estaria na casa de um vizinho quando ouviram o barulho dos disparos. “Fomos ver o que era e vimos que um homem tinha entrado correndo para meu pátio e outro estava caído. Então, fui até os fundos da minha casa e o rapaz (Moraes) me pediu para não o deixar morrer”, relata.
Defesa
Pela defesa de Tavares, foram arroladas duas testemunhas. Uma moradora do bairro Morgado Rosa, que relatou que estaria saindo da igreja no momento do crime. “Quando olhei para trás vi aquelas duas motos, uma ao lado da outra e os homens se tiroteando. Quando passei, me disseram que tinham matado um homem. Fui à casa do Dionatan para pegar um remédio com a esposa dele e ele que me atendeu, pois estava cuidando dela, porque estava em gravidez de risco”, relatou.
Já a esposa de Tavares garantiu que o acusado, com o qual vive maritalmente há oito anos, estaria com ela em casa no momento do crime. “Eu estava gestante e não estava me sentindo bem. Ele ficou todo o tempo comigo em casa. Tínhamos medo do Leonardo, tanto que pensamos em nos mudar de cidade por causa dele”, completa.
Réus
O condenado Nunes, 21 anos, relatou que estaria em Caxias do Sul, em 2015, foragido da Justiça. “Porém, fiquei sabendo que o Leonardo estava ameaçando minha família. Vim de Caxias para Bagé com um amigo. Saímos de moto para dar uma volta e casualmente passamos por eles de moto. Então, ele puxou uma arma e esse meu amigo, que também estava armado, efetuou os disparos. Eu não atirei em ninguém”, relata.
Também, em depoimento, perante os jurados, a juíza Naira Melkis Pereira Caminha e demais presentes no salão do júri, o condenado Tavares negou a autoria do crime e, inclusive, disse que não estaria com Nunes no dia do crime.
Relembre o caso
No dia 01 de agosto de 2015, o pelo Pelotão de Operações Especiais (POE) e Setor de Inteligência da Brigada Militar, prendeu Bruno Teles Nunes, 19 anos, e Dionatan da Silva Tavares, 21 anos, conhecido como “Degolado”, acusados do homicídio de Willian Santos Ferreira, 19 anos, conhecido como Japonês, e tentativa de homicídio de Leonardo Moraes, 18 anos, no dia 19 de agosto, na avenida Leonel Brizola.
Conforme a Brigada Militar, de posse dos mandados expedidos na tarde de segunda-feira, eles encontraram os acusados em uma rua que atravessa os bairros Jardim do Castelo e São Judas. Ambos estavam em uma motocicleta de cor cinza e caíram no momento da abordagem.
Segundo o tenente Barcellos, comandante do POE, a investigação já estava à procura dos acusados, somente os encontrando na tarde de ontem. Ainda conforme o comandante, os suspeitos teriam cometidos outros crimes, como roubos.
De acordo com o delegado Luís Eduardo Benites, da 2ª Delegacia de Polícia Civil, responsável pela representação de prisão preventiva e inquérito do homicídio e da tentativa de homicídio dos jovens, o motivo seria uma briga. “A justificativa dos crimes, segundo uma testemunha, seria que as duas vítimas teriam feito uma brincadeira “roleta russa” (brincadeira com um revólver que deixa apenas uma bala e atira contra a cabeça da vítima) com um amigo dos acusados e eles estariam se vingando”, finalizou o delegado.
Ambos foram presos e estavam de posse de uma arma calibre .22 e outro revólver calibre .38. Foram encaminhados ao Presídio Regional de Bagé. A motocicleta apreendida foi levada para o depósito.
Apreensão
Uma outra guarnição da Brigada Militar também apreendeu, com um homem de 43 anos, no bairro Pedra Branca, uma arma de chumbinho transformada para calibre .22 e munições calibre .38.
Folha do Sul.