Diga-me, você é racista?

Responder a essa pergunta com sinceridade pode até parecer fácil, afinal ninguém quer correr o risco de ser censurado pela opinião geral. Na grande maioria das vezes, o indivíduo dirá que não é racista, que tem, inclusive, muitos amigos negros. Mas tenha certeza, não há afirmação mais racista do que essa. Por favor, elimine essa expressão. Ora, amigos são amigos, o que interessa a cor?

Mas convenhamos, muitos de nós alimentam, mesmo que veladamente, talvez inconscientemente, algum tipo de discriminação, e aqui me refiro às de todo o tipo, seja com relação às pessoas negras, pobres, homossexuais, ou qualquer outro grupo que o indivíduo julgue inferior, por conta de sua condição ou posição na sociedade. Será hipocrisia dizer o contrário.

Vivemos tempos em que, apesar de haver cada vez mais evolução tecnológica, muitos conceitos e comportamentos retrógrados, permanecem muito presentes no pensamento e atitudes de várias pessoas, e o racismo é um desses resquícios da brutalidade que nos caracterizou até poucas décadas.

É até estranho que alguém possa ser racista no Brasil, um dos países mais miscigenados do mundo, mas acontece, infelizmente.

Abordar esse tema é sempre caminhar sobre a corda bamba, pisar em brasas, porém, diante de tantos casos em que essa violência social se manifesta, torna-se imperioso tocar na ferida do racismo, uma ferida que mesmo depois da abolição da escravatura no Brasil, mesmo depois de leis serem criadas, de estar gravado na constituição da país, ela ainda sangra.

Mais do que falar sobre o tema, é preciso educar, instruir, principalmente as crianças, sobre a igualdade que deve haver entre todos os povos, de todas as raças e credos. Do contrário, continuaremos tendo exemplos negativos em que o racismo aparece como causa das mais ignóbeis violências.

Além de educar, é preciso punir com severidade aqueles que por maldade ou ignorância, tentam diminuir o seu semelhante, sim, semelhante, que deve ser estampado com letras garrafais na consciência de todo ser humano.

A DATA

21 de março foi escolhido pela ONU para simbolizar a Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Nessa data, em 1960 ocorreu o chamado Massacre de Sharpeville, em referência ao bairro de Johanesburgo, na África do Sul. Na oportunidade 20 mil pessoas faziam um protesto contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitida sua circulação. Porém, mesmo tratando-se de uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão desarmada resultando em 69 mortos e 186 feridos.