Alguns animais com bicheira e maltratados estão sendo abandonados para morrer de forma lenta e dolorosa

No início da tarde de hoje (22), nossa reportagem recebeu a denúncia por parte da ONG Amigo Bicho, de que diversos animais nos últimos dias estão sendo abandonados pelos seus donos. A maioria deles foi encontrado pelos integrantes da ONG através de denúncia. Alguns doentes, com bicheira e visíveis sinais de maus-tratos. Outros, como um poodle recolhido hoje, foi encontrado em uma residência com bicheira e em estágio bem avançado.

Após tomarmos conhecimento das denúncias, fomos até a Clinica Veterinária Marisa, para onde os animais estão sendo levados em busca de um atendimento que possa reverter o quadro em que eles foram encontrados.

De acordo com Médica Veterinária Neusa Marisa Schneider, “já faz algum tempo que venho trabalhando para a OGN Amigo Bicho, e como tem ocorrido nos últimos dias, desta vez eles chegaram no final da manhã desta quarta-feira (22) com um cachorrinho da raça poodle, já com miíase, mais conhecida por bicheira em nossa região. E este animal que recebemos teve sua infecção iniciada pelo olho, mas após análise constatei que já estava com a cabeça toda tomada e visivelmente cheia de bicheira dentro da caixa encefálica. Além disso, apresentava um quadro de hipotermia, desidratado e sem condições mais de sobrevivência”.

Ainda conforme a veterinária, o animal foi tratado a base de antibiótico e mata bicheira para tentar controlar o quadro grave, mas infelizmente ele já estava em estado terminal e acabou não resistindo, e veio a óbito.

Marisa também disse à nossa reportagem, que a ONG, também nesta manhã, deixou um cachorro de porte grande com um quadro clínico de fratura em uma das patas, e que no período da tarde, ele irá passar por uma cirurgia pois a pata terá que ser amputada, para que depois com doses de antibiótico e corticoide, ele possa se recuperar.

“A ONG tem constantemente trazido animais nestas condições para a clínica”, disse Marisa, acrescentando que na semana passada recebeu outro cachorro com infecção e bicheira nos dois ouvidos, e que também acabou morrendo por demora no atendimento e um tratamento adequado para controlar o problema.

A veterinária alerta para as condições do tempo. Já que, segundo ela, a onda de calor que estamos sofrendo, em conjunto com a intensa umidade, propicia a contaminação de feridas abertas, pois as moscas colocam seus ovos justamente nestes locais, e em pouco tempo já se instala uma condição de miíase.

Segundo Marisa, ao primeiro de sinal de que o animal está com miíase, os donos devem comprar e aplicar um mata bicheira no local infectado. Em seguida, é necessário procurar um veterinário para uma melhor avaliação, pois normalmente a bicheira se instala em alguma ferida aberta, e esta deve ser tratada adequadamente.

“Imaginem que estes animais estão sendo largados nas ruas, os abandonam à própria sorte, e a maioria das vezes eles acabam morrendo lenta e dolorosamente”, disse Marisa, que recentemente recebeu um filhote com a patinha quebrada, e que passará por uma redução de fratura, alertando que hoje é importante os donos prestarem atenção nos cortes sofridos pelo animais, pois se não forem tratados fatalmente irão se transformar numa bicheira.

Marisa finalizou dizendo que “é melhor não ter um animal de estimação do que ter e deixá-los chegar no estado que muitos estão chegando à clínica, de uma forma até desumana”, lembrando que “existe lei para maus tratos, e as pessoas irão sofrer as consequências pelos seus atos em relação a estes animais; até porque, como profissional, eu farei minha parte, e o laudo que irei emitir não interessa de quem seja ou contra quem será emitido, mas agirei profissionalmente, de forma correta e ética”.

Já uma das integrantes da ONG Amigo Bicho, se manifestou em relação ao caso. Para Anne Fagundes, o ato constatado hoje com a poodle, “é um absurdo que chega a espécie humana em ver um animal no estado em que foi encontrado este cãozinho, infectado por bicheira e não ter sido feito nada por ele.” “O animal que não é de rua, ou seja, tem dono, morreu aos poucos, comido por larvas e osso aparecendo, e nós voluntários estamos em choque, chorando pela falta de amor, falta de cuidados simples com o animal. Como esse ser humano consegue ver o cão neste estado e não fazer nada por ele?”, perguntou Anne, acrescentando que nenhum veterinário se negaria a dar atendimento se fosse procurado.

“Vamos pegar fotos, laudo da nossa veterinária, testemunhas e denunciar na Delegacia de Polícia, e esperamos que a Justiça humana veja e julgue este caso, pois crime contra animais também é crime. Nós da ONG Amigo Bicho, iremos avisar o dia da audiência e vamos esperar a proprietária com uma grande caminhada de repúdio”, finalizou a integrante da ONG.

Outra integrante da ONG, Maria Antônia, disse estar muito triste e chocada. Ela socorreu o poodle e a levou para a clínica, mas infelizmente já era tarde, e não havia mais nada que pudesse ser feito pelo animal.

Ainda de acordo com integrantes da ONG, a proprietária do poodle enviou uma mensagem via facebook falando sobre o problema do cachorro dela, fato que segundo os integrantes não é de responsabilidade da entidade, e sim dos donos destes animais, pois eles tem condições e a obrigação de levá-los para ser atendidos em algum veterinário, diferente dos animais de rua.

Nossa reportagem entrou em contato com a dona do poodle na tarde de hoje. Ela nos disse, que “por orientação de meu advogado não devo me manifestar hoje, mas amanhã irei procurá-los e conversamos sobre o caso, pois não tenho nada a esconder”.

Infelizmente, as imagens são fortes. Mas para que a morte destes animais não tenham sido em vão, torna-se necessário divulgá-las para que outros animais não passem pelo sofrimento que estes cães passaram. Também queremos destacar, que nossa função não é condenar ou absolver ninguém, mas sim apenas conscientizar as pessoas que os animais, assim como os humanos, adoecem, sofrem e sentem dor.

Além disso, vale lembrar que maus tratos é um crime previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três
meses a um ano, e multa).