Morre, aos 87 anos, Marília Alencastro Maia
Professora, escritora e poeta, foi ela quem deu a Dom Pedrito o cognome "Capital da Paz"

Morreu hoje, quinta-feira (14), aos 87 anos, a professora, escritora e poeta Marília Alencastro Maia. Gaúcha de São Luiz Gonzaga, Marília foi viver com a família em Porto Alegre após a morte prematura do pai, e foi na Capital do Estado, no Instituto de Educação Flores da Cunha, que a menina estudiosa concluiu com êxito o chamado 1º grau, conquistando uma bolsa – a primeira ofertada no Rio Grande do Sul – para terminar seus estudos como interna da Escola Nossa Senhora do Horto, aqui em Dom Pedrito, iniciando assim uma história de amor e devoção para com esta terra.
“Chegamos minha mãe e eu de madrugada. Cidade pequenininha, poucos pontos de luz… Mas as portas do Horto estavam abertas e, a essa escola querida, devo a minha formação”, recordou a professora em seu discurso como patrona da 14ª Feira do Livro, em 2018, uma das tantas homenagens recebidas ao longo de sua vida.
A educadora
Pouco depois de concluir seus estudos no curso normal, a jovem professora entra no ensino superior, uma raridade para as mulheres da época, formando-se em letras (português e literaturas brasileira e portuguesa) pelas Faculdades Unidas de Bagé (Funba). Nas mais de três décadas dedicadas a educação, 20 anos foram destinados exclusivamente à sala de aula; seu primeiro emprego foi na Escola Estadual Dr. Arthur Villamil de Castro, como alfabetizadora.
Motivada pela ânsia do saber, Marília especializou-se em duas áreas: supervisão escolar, pelo CPOE (Centro de Pesquisa e Orientação Educacional do Rio Grande do Sul), e em administração escolar, pela Fundação de Recursos Humanos. Profissional dedicada ao seu ofício, ocupou, entre os anos de 1970 e 1985 o cargo de representante da 13ª Delegacia de Educação, e em 1973, foi nomeada Diretora do Ensino Municipal pelo então prefeito interino Alcebíades Jardim de Quadros, retornando ao posto nas gestões de Crispim Chaves da Cruz e José Coelho Leal.
O termo Capital da Paz
É graças a sensibilidade de Marília Maia que Dom Pedrito carrega hoje a alcunha de Capital da Paz, título reconhecido oficialmente através do decreto nº 116 de 27 de outubro de 1988, assinado pelo então prefeito Quintiliano Machado Vieira.
O cognome popularizou-se de diferentes maneiras: junto de seus alunos da terceira série, em 1966, e no início da década de 1970, através da publicação de um de seus poemas, Ode à Capital da Paz, na coluna que assinou durante anos em um jornal da cidade.
Outras faces
Leitora voraz, Marília foi também uma escritora de mão cheia, participando de diversas coletâneas de poemas, e tendo publicado, em 1990, o livro “Dr. José Tude de Godoy: vida e obra”. Além disso, escreveu também mais de 500 crônicas, publicadas em jornais da cidade.
O dom da palavra, seu principal instrumento de trabalho, difundiu-se também pelas ondas do rádio, através de um programa intitulado Espaço Cultural, em que ela comentava textos e abordava algumas das dificuldades da língua portuguesa.
Prêmios e homenagens
Os anos dedicados à educação e a cultura foram reconhecidos com diversos prêmios e homenagens, dentre eles a menção honrosa Juca Prado, da Academia Paulista de Letras, e o Brasão Simões Lopes Neto, oferecido pela Prefeitura de Pelotas. No entanto, a mais significativa das honrarias certamente lhe foi oferecida em 1998, ano em que recebeu o título de ‘Cidadã Pedritense’.
No ano passado, foi homenageada pelo conjunto da obra com o prêmio “Para quem você tira o chapéu”, organizado pelo Rotary Clube Obelisco da Paz.
Luto oficial
“O prefeito em Exercício, Diego da Rosa Cruz, decretou na tarde desta quinta-feira (14), luto oficial de três dias pelo falecimento dessa exemplar Cidadã Pedritense, que nos deixa como legado uma vida inteira dedicada à educação”, destacou em nota o Executivo.