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Felino exclusivo do Pampa, ameaçado de extinção é filmado em Dom Pedrito

Animal foi flagrado com ajuda de armadilhas fotográficas instaladas na bacia do rio Tacuarembó, em Dom Pedrito (RS)

Tacuarembó, em Dom Pedrito (RS)

Os pesquisadores do Projeto Felinos do Pampa têm motivos de sobra para comemorar: um dos últimos registros garantidos por armadilhas fotográficas instaladas na bacia do rio Tacuarembó, em Dom Pedrito (RS), foi do gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai), espécie endêmica do bioma que já perdeu mais de 80% do habitat para a agricultura e é considerado um dos felinos mais ameaçados de extinção em todo o Planeta.

As câmeras registraram em foto e vídeo o animal, que mede cerca de 50 centímetros de comprimento. “Esses são o 3º e 4º flagrantes da espécie feitos com câmera trap até hoje, os outros dois foram feitos por colegas nossos em uma outra expedição. Eu e a Marina monitoramos a região do Pampa há mais de 15 anos e, se juntarmos as ações que realizamos nesse tempo todo, chegamos a um número de 50 mil armadilhas fotográficas instaladas para conseguir esses dois registros”, conta Felipe Peters, biólogo que atua, junto à bióloga Marina Favarini, no Projeto.

Armadilhas do bem: câmeras camufladas na mata colaboram para descobertas da ciência

De acordo com o especialista o flagrante é muito raro. “O palheiro do Pampa é um bicho em situação muito delicada, por isso é bem difícil conseguir um registro dele vivo. A maioria dos flagrantes que temos acesso são de animais mortos, encontrados atropelados em rodovias, ou via ciência cidadã: as pessoas mais engajadas mandam fotos pra gente, mas infelizmente os felinos estão mortos ou em uma situação de ameaça extrema, acuados por animais domésticos”, diz Peters, que destaca um comportamento curioso observado nos registros compartilhados por colaboradores.

“Percebemos uma reação diferente frente aos cachorros, pois os gatos não fogem, não correm, eles enfrentam, acabam encarando. Então é um display de defesa interessante: ele tenta aumentar o tamanho eriçando o pelo, arqueia as patas dianteiras e inclina a cabeça para parecer maior do que realmente é. Esse comportamento chamou bastante a nossa atenção”, completa.

A quantidade de registros da espécie durante o dia também é uma questão curiosa para os pesquisadores. “Em todos os locais que a gente instala as câmeras almejamos o registro dessa espécie, que é a mais rara”, completa.

Felinos do Pampa: bioma é casa para espécies raras e ameaçadas

O vídeo foi feito na margem de córrego com mata ciliar baixa e mista, arbustiva-arbórea, uma mistura de campo com remanescente de mato, características que não costumam fazer parte da área de ocorrência do felino. “No entanto, era o único corredor que conectava dois grandes fragmentos de campos nativos em meio a uma grande área de soja. Nesse mesmo local do vídeo a gente registrou um gato-maracajá que é totalmente florestal; dois bichos de comportamentos totalmente diferentes registrados no mesmo local. Era esperado maracajá lá, mas o palheiro não, porém, ao analisar a imagem de satélite, detectamos que era a única maneira dele fazer a transição entre campos sem se expor à lavoura”, explica Peters, que destaca a importância dos registros para a conservação do gato.

“Esses dados são extremamente importantes porque não temos evidências da espécie. Em 2018 nós publicamos um trabalho sobre a dieta deles com base em poucos indivíduos registrados, atropelados; em 2021 fizemos uma revisão de todos os pontos de ocorrência que tínhamos mapeado, assim como o nível de ameaça. Então todo registro é válido pra uma espécie que não se tem nada de informação”, diz.

O Projeto Felinos do Pampa é um projeto de conservação e pesquisa criado pelos biólogos Felipe Peters e Marina Favarini para agregar demandas do projeto de doutorado no BIMALAB/UFRGS, junto à orientadora Flávia Tirelli, e unir ações dos últimos15 anos de pesquisa.

Para conservar a espécie os especialistas atuam com algumas frentes: mitigação de atropelamento, (localizando e sinalizando os pontos de maior ameaça); mitigação de ações de caça (por retaliação); campanha de vacinação de animais domésticos (para evitar transmissão de doenças) e campanhas para evitar a fragmentação e perda de área, principal ameaça para a espécie. “Muitas áreas de campos nativos, antes usadas para o manejo de gado, hoje se tornaram lavouras de soja, que dá maior retorno financeiro. Estamos tentando parcerias para implementar um selo verde e valorizar o gado proveniente da pecuária tradicional e tentar equilibrar esse valor em relação à soja, pra que a gente mantenha áreas campestres com retorno financeiro ao proprietário, estimulando a manutenção dos campos na condição necessária aos gatos”, finaliza.

O gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai) é uma espécie campestre que depende de campos nativos para sobreviver. O status de conservação do felino ainda não foi definido pela IUCN.

Fonte: G1

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