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Covid-19 – Do medo ao status

O coronavírus veio para fazer mudanças, para ensinar, para destruir sim, e sobre os escombros do velho homem, reconstruir algo melhor.

Desde quando as primeiras informações sobre um novo vírus, teoricamente surgido na cidade de Uhanm, na China, começaram a circular, parecia ser mais uma daquelas situações que frequentemente nos chama a atenção, mas não chega a preocupar, visto que, de tão distante, apesar de os olhos estarem vendo, não chegam a ferir o coração. Só que… Isso, mesmo, o problema começou a sair do controle, se é que teve algum controle em algum momento. O vírus desconhecido iniciou sua trajetória migratória pelo globo, desrespeitando fronteiras, burlando a segurança dos aeroportos, se escondendo em bagagens e ceifando a vida de incontáveis vítimas, até que se identificasse o agente causador da moléstia. A pandemia estava instalada.

Quando bateu as nossas portas, o medo e a incerteza entraram de mãos dadas com o vírus. Em Dom Pedrito, a exemplo de outras tantas cidades, medidas drásticas foram tomadas de início e pareciam contar com o aval da população, quem dera. Era apenas o medo e a incerteza das pessoas que ainda assustadas, e outras incrédulas, resolveram se submeter ao inimigo invisível. De começo, apenas um caso, onde a paciente não precisou, sequer ser hospitalizada, como ocorre com tantas outras. Por dias, nenhum outro caso foi registrado e o medo foi diminuindo na maioria, de modo que se começou uma saída do ninho.

Mas o cenário mudou, outros casos começaram a ser identificados; manifestações populares nas redes sociais acusavam este ou aquele de ter trazido o vírus; juízes de plantão recomendavam o fechamento dos acessos à cidade; denúncias de festas onde o vírus teria se disseminado tomavam conta dos comentários. Enquanto isso, uma sequência de decretos municipais se adequava aos ditames do Estado; o comércio abria e fechava; pessoas perderam junto aos empregos, sua dignidade, sua autoestima.

À medida que o número de casos aumentava, também despontavam os que, diagnosticados com o novo coronavírus, resolviam, aparentemente, assumir sua condição perante a sociedade. A alegação de colocarem o rosto na internet, falando como se sentiam, como teriam sido contaminados, os cuidados que estavam tomando, era a de que as pessoas com quem teriam tido contato precisariam saber para poderem tomar as medidas sanitárias necessárias. Digamos que em alguns casos isso tenha sido verdade, mas ficou uma impressão de que alguns pacientes quiseram aproveitar o fato para, digamos, ostentar, promover-se, chamar a atenção para si, afinal, o ser humano tem uma tendência, uma necessidade de ser notado, de querer que os outros se importem com ele, mesmo que por vias não convencionais. Estar com Covid-19 passou a ter significado de status. O troféu coronavírus estava criado.

Sim, haverão aqueles que sem saber interpretar uma simples receita de macarrão instantâneo, tentarão mais uma vez inverter o significado dessas afirmativas, porém, o papel da imprensa é, muito antes de agradar consciências, fazê-las refletir, e quando reações, mesmo que contrárias se erguem, quando o desconforto se instala ao ponto de movê-las da cadeira, é porque se atingiu o objetivo.

Sigamos acompanhando, sem julgar, sem apontar o dedo. O coronavírus veio para fazer mudanças, para ensinar, para destruir sim, e sobre os escombros do velho homem, reconstruir algo melhor.

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