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Dom Pedrito – Qwerty Portal de Notícias entrevista JA Dias Lopes

Na manhã de hoje (02), nossa reportagem entrevistou o jornalista e escritor, formado na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) de Porto Alegre, José Antônio Dias Lopes. Dias Lopes, é natural de Dom Pedrito, mas desde 1968 mora em São Paulo. Trabalhou 23 anos na Veja, sendo um dos fundadores da revista. Nela desempenhou a função de repórter pesquisador, repórter, redator e editor. Foi correspondente três anos em Roma a serviço da mesma.

 

O jornalista ganhou duas vezes o prêmio ESSO, em 1982 e 1986. Em 1991, começou a trabalhar na revista Gula, especialista em gastronomia, onde permaneceu 17 anos. No Estado de São Paulo, Dias Lopes assina um caderno mensal chamado Paladar. Atualmente, o jornalista trabalha na revista Gosto, onde é sócio proprietário. JA Dias Lopes escreveu três livros, abordando sempre o tema culinária e história. O primeiro, A Canja do Imperador, publicado em 2004. O segundo, A Rainha que virou pizza, em 2007. E o mais recente deles, O País das Bananas que terá seu lançamento oficial na tarde de hoje (02), na 10ª Feira do Livro de Dom Pedrito, com sessão de autógrafos.

 

Leia na integra a entrevista concedida a Qwerty Portal de Notícias:

Marcelo Brum – Você é um dos fundadores da revista Veja. 

Dias Lopes – Sim sou da equipe que fundou a revista em 1968.

Marcelo Brum – Trabalhou como repórter, redator e editor?

Dias Lopes – Na verdade, naquela época se começava como repórter pesquisador, depois repórter, editor assistente e depois editor da revista, além de correspondente internacional. Conheci o mundo inteiro, fui privilegiado, pois vi o leste europeu desabando. Cobri a primeira greve dos mineiros da Ucrânia, a primeira eleição livre da Polônia e a quebra do muro de Berlin. Só não consegui cobrir um episódio na Romênia, pois demorei demais para chegar, em virtude do fechamento do aeroporto.

Marcelo Brum – Em 1991, você começou a trabalhar na revista Gula que é especialista em gastronomia.

Dias Lopes – Eu voltei da Itália, e lá conheci uma revista chamada Pane Vino de gastronomia com o conteúdo, que a Gosto tem e que a Gula teve. Contém um conteúdo cultural, me encantei com esta revista e acabei sendo convidado para fazer uma revista parecida, e eu realizei este projeto depois assumir a direção da Gula, no seu terceiro número. Permaneci nela por 17 anos.

Marcelo Brum – Nesta época começou a escrever a coluna Paladar no Estado de São Paulo.

Dias Lopes – Comecei em 2000, tenho 14 anos de paladar, mas eu JA não sou semanal, sou mensal. Escrevi durante muito tempo. Os meus livros na verdade são fruto deste trabalho, eu reúno estas crônicas todas que são revistas. Eu modifico, até porque o que se publica o leitor lê, e isso enriquece.

Marcelo Brum – As três obras que você tem publicadas hoje são A Canja do Imperador (2004), A rainha que virou pizza (2007) e o País das Bananas (2014).

Dias Lopes – Eu tenho um livro prontinho que irá sair no ano que vem, que vai se chamar “Quando as galinhas fizerem dieta”. Tem uma crônica que eu sustento que no futuro os animais farão dieta por nós, as galinha já estão fazendo dieta com ovos mais saudáveis. 

Marcelo Brum – Os seus livros usam como base a gastronomia e a história?

Dias Lopes – É gastronomia e história. Eu acho que neste livro último livro eu explico um pouco desta linha que eu segui, pois eu sempre gostei muito daqueles almanaques antigos, alias tenho eles todos em São Paulo. Não sei se existe mais, ultimamente do Correio do Povo que parece ter acabado também. Tinha o almanaque Riograndense e alguns já existiam aqui em minha casa. Um almanaque, por exemplo, com a letra da minha vó, em que ela registrava o nascimento dos filhos. Eles tinham crônicas escritas de uma maneira acessível, linguagem jornalística clara e com histórias verdadeiras, interessantes e curiosas.

Marcelo Brum – Podemos dizer que você é hoje um jornalista gastronômico? 

Dias Lopes – Sim, sim eu sou. 

Marcelo Brum – Como começou o seu interesse pela gastronomia?

Dias Lopes – Eu sempre gostei de comer bem. Gosto muito de vinho e já escrevi sobre a bebida e sempre gostei de história. Na verdade, eu talvez seja um historiador frustrado, porque eu deveria ter estuda história. Comecei me interessando pela história Rioplatense, muitos anos, voltei a escrever sobre ela no Correio do Povo e para a revista do Globo.

Marcelo Brum – Hoje podemos dizer que o jornalismo gastronômico está crescendo no Brasil?

Dias Lopes – Hoje se modificou, mas eu faço uma distinção entre gastronomia e culinária. Culinária é a receita em si, e a muitas revistas de culinária e poucas em gastronomia. Eu achei que gastronomia fosse dar certo no Brasil, e sou pioneiro desta linha porque aprendi na Itália, não inventei nada. No começo da Gula, a gente tentava explicar os produtos que estavam chegando do exterior.

Marcelo Brum – Recentemente a TV Bandeirantes lançou um programa chamado Masterchef. De que maneira este programa pode incrementar o jornalismo gastronômico?

Dias Lopes – Acho que sim, porque ele provoca um interesse muito grande. Mas é uma linha diferente da que eu sigo, é uma linha show. Eu tenho um projeto de fazer um programa de televisão, já estou em negociações com dois canais, mas não sei se vai sair. Eu irei abastecer o programa com reportagens. 

Marcelo Brum – Você tem alguma formação específica em gastronomia?

Dias Lopes –  Não. Inclusive não sei nem cozinhar, mas se me preguntarem como se clarifica uma manteiga, eu sei como explicar. Eu fui editor de medicina da Veja, as cinco capas sobre Tancredo Neves, fui eu que escrevi, mas eu não sei pegar um estetoscópio. Jornalismo é isto, tem que se preparar. Aliás, eu tenho uma queixa, fui entrevistado por uma moça muito inteligente, que devia ter se informado, porque perguntou se eu tinha nascido em Dom Pedrito.

Marcelo Brum – Falando um pouquinho em jornalismo, sabemos que a situação da exigência do diploma está parada no Congresso Nacional, sobre a PEC 33 e a 386. Você acredita que ainda exista necessidade de que o jornalista tenha que ser formado e ter conhecimento para atuar na área?

Dias Lopes – Pois é eu sou formado mais eu acho que tenha que ter disciplina para a profissão. Por outro lado, o magistério e o jornalismo são profissões que deviam aceitar pessoas de outras áreas para enriquecer a profissão. Mas não gostaria que o jornalismo fosse fechado somente a que faz a faculdade. 

Marcelo Brum – Com relação ao caráter de sua coluna no Caderno Paladar do Estado de São Paulo, o que você pode falar a respeito?

Dias Lopes – O Paladar é inovador, um jornal moderno e está muito ligada a cozinha brasileira. É uma cozinha inventiva, mas eu acho que o movimento está acabando, eu inclusive sou um pouco conservador, eu gosto da cozinha de sempre, pois o princípio dela é você conseguir transmitir de uma geração para outra. E esta cozinha molecular que tem agora, é quase intransmitível, porque tem equipamentos que exigem conhecimentos técnicos que as pessoas em geral não têm.

Marcelo Brum – Como são elaboradas suas pautas?

Dias Lopes – São sessões fixas, mais eu tenho muitas sugestões. No jornal toda a semana alguém me sugere um assunto, dão ideias e contestam. O leitor participa muito pela internet e tem uma interação imensa. Tanto que estou criando um site gastronômico pra mim, como se fosse uma revista. Só de gastronomia, eu devo ter mais de 600 crônicas.

Marcelo Brum – A gente sabe que São Paulo tem uma crítica muito forte não só na área artística. Como funciona a crítica nesta área gastronômica em São Paulo, e como compará-la com as demais?

Dias Lopes – Ela é forte, e São Paulo tem dois ou três críticos respeitados, e vários outros que escrevem crítica também. O New York Times tem um crítico, que criticava somente a comida chinesa. Era um americano que ia todo ano duas ou três vezes a China, e escrevia sobre a culinária daquele país. Outro detalhe, é que tem crítica que fecha restaurante em São Paulo.

Marcelo Brum – Recentemente você deu uma entrevista para o Jô Soares na Rede Globo falando sobre o lançamento do livro “O País das Bananas”. Como surgiu o convite?

Dias Lopes –  Eu não acreditava em redes sociais, no poder da rede social que é avassalador, eu acho que daqui a uns cinco ou seis anos o papel irá ficar restrito a algum tipo de publicação ou livro. Outro dia eu fui entrevistado num programa do Canal Rural, e na saída eu perguntei, onde você me descobriu? E ele respondeu nas redes sociais, porque é muito mais rápido. E o Jô eu acredito que tenha sido por aí, embora eu já o conheça há alguns anos.

Marcelo Brum – Como surgiu a ideia do nome do livro “O País das Bananas”?

Dias Lopes – Para mim o Brasil é um bananal, eu me impressionava quando viajava pelo interior do Brasil, e quando chegava ao aeroporto se olhava de cima e tinha banana por tudo. Aqui não tem tanta, mais lá para cima é um bananal completo.

Marcelo Brum – Fale sobre o capítulo do Fruto Proibido que está neste livro.

Dias Lopes – A Bíblia não fala qual é o fruto proibido, fala do fruto da ciência do bem e do mal. Fala também que o primeiro casal humano, cobriu suas vergonhas com folhas de figueira. A banana era chamada de figo antigamente, São Gerônimo trazendo a Bíblia do Hebraico para o Latim, traduziu a palavra mal para malo no século IV, que era maça, daí em diante ficou como a maça a fruta proibida. Mas na antiga iconografia medieval é a banana.

Marcelo Brum – O livro tem algumas curiosidades como, por exemplo, que o pão francês, é na verdade brasileiro. O arroz de Braga, nada tem a ver com Portugal. Fale um pouco sobre isso?

Dias Lopes – Pois é ele é um arroz inventado em Santos. Mas eu não consigo me lembrar de todas as crônicas que eu escrevo, até porque tem umas escritas a mais de dez anos. Eu reescrevi e atualizei para o livro, sempre reviso, eu me lembro de 80% delas.  

Reportagem: Marcelo Brum – MTB/RS 84.490 – FENAJ 8202
Setor de jornalismo: [email protected]

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