
Qwerty Editorial – Violência contra a mulher, traço cultural e histórico
A sociedade humana, mesmo antes de se identificar como tal, apresenta um comportamento belicoso, é uma característica do mundo em que vivemos, todos os seres lutam pela sobrevivência, sejam eles vegetais ou animais. A teoria da evolução de Charles Darwin nos dá o exemplo máximo desse estado – as espécies mais bem adaptadas são as que prosperam e também dão origem a outras. Aquelas que não conseguem prevalecer sobre as demais ou se adaptar a novas condições, acabam por diminuir e mesmo desaparecer, como mostra a história geológica do planeta.
O homem, enquanto espécie, por ser fisicamente mais forte, historicamente se sobrepôs ao sexo feminino. Nos primórdios da humanidade, quando os núcleos primitivos prosperavam, era natural que a mulher cuidasse dos filhos, do local onde moravam, enquanto o homem saia para caçar e trazer o alimento. Esse aspecto, por uma questão de evolução, foi certamente uma das características que permitiu que o ser humano prevalecesse sobre as demais espécies e evoluísse ao ponto em que hoje nos encontramos.
Especialistas poderão confirmar, mas um dos motivos para que o homem ainda tenha comportamentos violentos na atualidade, é antes de tudo, a sua natureza animal, aquilo que ele traz no seu íntimo como resquícios de seus instintos primitivos, e isso vale para ambos os sexos.
Todavia, em se falando na violência específica do homem contra a mulher, notadamente nos dias de hoje, pode-se identificar uma das causas na emancipação do sexo feminino, que se acentuou no século passado. A era dita moderna exigiu que a mulher trocasse as lides domésticas para ajudar no orçamento familiar. Orgulhoso, o homem viu nisso uma ameaça, uma afronta ao seu natural poder sobre aquele que julgava o sexo frágil. Vulnerável, lançou mão daquilo que dispõe por natureza – a força.
Em Dom Pedrito, dificilmente há um dia em que casos de agressão contra mulher não sejam registrados pelo polícia. E se engana quem pensa que são apenas as mulheres das classes menos favorecidas (economicamente falando), que apanham de seus maridos, companheiros, namorados ou mesmo de familiares. Talvez esses sejam os que acabam por vir à tona, mas nas famílias tradicionais também se escondem dramas ocultos de violência contra mulheres.
Infelizmente, existe outro componente, agora cultural, que incide sobre o comportamento do homem pedritense e está intimamente ligado ao modo pelo qual se formou a gente do sul brasileiro. O gaúcho tem essa fama de ser um homem valente, destemido, um macho na verdadeira acepção da palavra e isso provavelmente seja um dos motivos para que se tenha tantos casos noticiados recentemente.
O mais emblemático e que teve uma repercussão muito grande, foi aquele em que um homem, por motivos ainda não esclarecidos, assassinou a ex-companheira. A mulher que havia sido inicialmente dada como desaparecida há um ano, foi enterrada dentro de um cômodo da própria casa pelo homem que vivia, literalmente sobre o cadáver daquela com quem tinha um filho. Muitas foram as manifestações populares a respeito do caso, sempre na tentativa de entender como um ser humano foi capaz de tamanha atrocidade. Alguma patologia mental certamente deve estar presente para que se possa explicar tal fato, visto não ser possível a qualquer pessoa, homem ou mulher, agir assim para com seu semelhante, ao menos em sã consciência.
Embora novas leis tenham sido criadas para proteger aquelas que são mais fracas fisicamente, essa mulher entrou para uma triste estatística, mais um dígito nesse número que não para de crescer. O autor foi identificado, preso, e certamente será julgado e depois condenado, mas o prejuízo familiar e social já está feito.
Como mudar essa realidade? Talvez não haja somente uma medida e sim um conjunto de práticas e políticas que foquem na prevenção, uma vez que a repressão vem demonstrando resultados insatisfatórios.
De qualquer forma, se o homem vem evoluindo ao longo dos tempos, não custa nada acreditar que chegaremos no dia em que não mais tenhamos que conviver com esse tipo situação. Assim como a maioria dos países extinguiu a perseguição religiosa, assim como não existe mais a caça as bruxas, como não existe mais enforcamento em praça pública, o homem também deixará para trás esses vestígios de sua ancestralidade animal. Pensemos nisso!